MALAQUIAS MAL APLICADO

Poderia não comentar o profeta Malaquias, mas penso que uma pequena análise do Livro poderá ser um reforço adicional ao estudo acerca do dízimo, além de podermos dimensionar quão mal aplicadas são suas palavras nos nossos dias.

A Bíblia de Estudo Pentecostal, no breve comentário acerca desse Livro profético informa que “Malaquias profetizou cerca de cem anos após os primeiros exilados terem voltado de Babilônia”. Então, o relato é pós-exílio, posterior a Ezequiel e Daniel que profetizaram durante, enquanto todos os demais são anteriores, exceto Ageu e Zacarias que também são pós-exílio.

Já no cap. 1 e verso 1, encontramos: “Peso da palavra do Senhor contra Israel, pelo ministério de Malaquias.” (destaquei) Ora se era contra Israel, Ml. 3.10, não pode referir-se a Igreja, se alguém intitula-se Israel espiritual, então o dízimo não pode ser material.

O contexto do Livro nos fornece o estado espiritual da nação que embora no primeiro momento do pós-exílio estivesse avivada e devotada Ed. 6.13-22 com a reconstrução do templo e a celebração das liturgias estabelecidas na Torah (Lei), naquele momento; já não estava tão disposta a seguir os preceitos do Senhor e desvirtuaram todo o cerimonial prescrito por Deus para aquela nação Ml. 1.7,8. Todo o Israel fazia o que achava bem aos seus olhos. Os sacerdotes estavam corrompidos, cap. 2, e os filhos de Israel não contribuíam, nem ofertavam corretamente ao Senhor Ml. 1.14; 3.7-10.

A cobrança do dízimo no livro do profeta Malaquias é contundente, mas digno de observação. Percebe-se que enquanto não havia templo (época do exílio) e, não havia o exercício das atividades sacerdotais não havia cobrança de dízimos, mostrando a relação direta e inseparável desse trinômio: dízimo, sacerdócio, templo. Com o restabelecimento decorrente da repatriação tornou-se imperativo o restabelecimento da herança dos levitas: Os dízimos; para que pudesse haver o desempenho das atividades sacerdotais, sem as quais seria impossível a realização do culto coletivo a Deus, naquela época, posto que somente os sacerdotes e levitas estavam autorizados por Deus para ministrarem o Sagrado, e terminantemente proibidos de outra atividades, como as seculares, por isso os dízimos como herança.

Malaquias 3.11, nos traz palavras de terror quando ditas hoje; sendo usada pelos pregadores contra os cristãos não dizimistas, mesmo sendo o livro de Malaquias estritamente dirigido a Israel. Diz assim o verso: “E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” Os pobres irmãos, chamados a liberdade em Cristo, estão hoje, escravizados pela consciência, artificialmente plantada pelos doutrinadores modernos, que impõe com todas as técnicas de PNL (programação neurolingüística), o temor do “devorador” que irá consumir tudo que os irmão em Cristo tenham caso não contribua com esse tipo de oferta. Resta, porém saber, se há coerência em achar que o “devorador” possa alcançar um cristão, pois se colocar-mos a prova essa “maldição”, considerando a existência do Novo Pacto e a morte de Cristo, ela não tem a mínima validade. Cristo nos isenta da Lei e suas Maldições Gl. 3.10 e o v. 13 diz “Cristo nos resgatou da maldição da Lei...” além do mais, jamais podemos perder de vista que Malaquias profetizou contra Israel, em um dado momento histórico, não é sensato afirmar que essa maldição determinada em Ml. 3.11, tenha desbravado as barreiras do tempo e tenha poder de alcance sobre os judeus ou cristãos posteriores, por uma razão óbvia: O Pentatêuco (cinco primeiros livros da Bíblia) foram escritos segundo nos informa a Bíblia de Estudo Pentecostal, Ed. 1995, CPAD, entre 1445 a 1405 a.C., e o Livro do profeta Malaquias, entre 430 e 420, o que nos dá uma diferença aproximada de 1000 (mil) anos. Em todas as ocorrências da palavra “dízimo” no Velho Testamento que são em número de 31, apenas em Malaquias se fala do “devorador” associado a sonegação dessa oferta, entendido por muitos como a punição para os não dizimistas atuais, no entanto, é bom perceber que se essa punição é eterna, ou seja vigora ainda hoje, então todos os transgressores anteriores ao profeta Malaquias, foram beneficiados por Deus com a impunidade, pois não há maldição expressa contra eles: Não se falou do “devorador” dos “não dizimistas”, antes desse profeta. Para quem não sabe, Devorador, era o nome dado as pragas que assolavam as lavouras, em especial o gafanhoto. Se aceitar-mos o contexto em que foi escrito o Livro, aceitaremos também que esse dito de Ml. 3.11 foi dirigido ao povo de Israel que vivia aquele momento, nem para os anteriores, nem para os posteriores.

Se o devorador alcançasse e consumisse os bens de um cristão em cumprimento a Ml. 3.9 “Com maldição sois amaldiçoados, por que me roubais a mim, vós, toda a nação”, então, de nada teria valido a morte de Cristo e as palavras de Paulo em Gl. 3.13 “Cristo nos resgatou da maldição da Lei...” A grande verdade é que o Livro do profeta Malaquias é extremamente mal aplicado, para satisfazer os interesses dos neodizimistas, porém sempre esbarrarão nas incongruências e contradições de sua pretensa “doutrina”. A Bíblia não deixa margem para o tipo de interpretação que querem dar ao texto do profeta, a maioria dos doutrinadores seguem essa linha porque o dinheiro ainda fala mais alto, inclusive no meio das lideranças cristãs.

Se perguntarem como faremos a obra? Poder-se-á responder: “Da maneira bíblica!”: Com a oferta voluntária dos reais convertidos a Cristo, simples e eficaz é essa oferta; nos ensina o Livro de Atos dos Apóstolos.

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